Asa Branca
Há
mais de 60 anos, Luiz Gonzaga entrava no estúdio da RCA para gravar uma toada
chamada Asa Branca, a primeira parceria sua com o cearense Humberto Teixeira, o
maior clássico da música nordestina em todos os tempos, com mais de 500
regravações no Brasil e mundo afora. Teixeira, que estava no estúdio na noite da
gravação, relembrou aquela sessão histórica, anos mais tarde, em Fortaleza, ao
pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez: “... No dia em que gravamos, com
o conjunto de Canhoto, ele disse assim: ‘Mas puxa, vocês depois de um negócio desses, de
sucessos, vêm cantar moda de igreja. Que troço horrível’! Aí então, eles com um
pires na mão, saíam pedindo, brincando, uma esmola pro Luiz e pra mim, dentro
do estúdio. Mal sabiam eles que nós estávamos gravando ali uma das páginas mais
maravilhosas da música brasileira”. Em 1945, Luiz Gonzaga foi levado pelo compositor Lauro Maia, ao escritório de advocacia de
Humberto Teixeira, na avenida Calógeras, no Centro do Rio. Gonzagão andava há
algum tempo à procura de um compositor com quem pudesse retrabalhar os ritmos
do Nordeste, que conhecia tão bem dos forrobodós freqüentados com o pai
Januário, sanfoneiro conceituado no sertão do Araripe. “Nesse mesmo dia nós
fizemos os primeiros versos, discutimos as primeiras idéias em torno de Asa
branca, que só dois anos depois foi gravada”, contou Humberto Teixeira, não se esquecendo
de acrescentar que Asa branca não foi uma composição inédita da dupla. “'Asa
Branca' é uma música do meu pai Januário, mas não tinha este nome, era
chamada de 'Catingueira do Sertão' (a catingueira é uma árvore comum no
semi-árido).
O
velho Januário nunca escondeu de ninguém que Asa Branca era uma música sua.
Dominguinhos conta que um dia estava em Exu, na casa de Januário: “Enquanto seu
Luiz tocava "Asa Branca" na sanfona, Januário comentou comigo:
‘Esta música aí foi esse negro safado que roubou de mim’, claro que em tom de
brincadeira. Januário também havia se apropriado da música, que fazia parte do
repertório de dos sanfoneiros da região, como também dos cegos que tocavam nas
feiras em troca de dinheiro. Além do mais "Juazeiro", "Meu
Pé de Serra", "Vira e Mexe", sucessos inaugurais de
Luiz Gonzaga também eram temas musicais correntes no Sertão, e foram levado por
ele em seu matolão, quando deixou o povoado do Araripe, Exu, em 1930.
Orga. E Pesq.: Antonio Barbosa
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