Tiradentes:
personagem foi apenas "bode expiatório", diz jornalista
Ilustração Joaquim José da Silva Xavier, conhecido
como Tiradentes
A imagem de um líder revolucionário, mártir da
independência do Brasil, uma espécie de Cristo cívico, atribuída a Joaquim
José da Silva Xavier por uma tradição historiográfica que teve início no
final do século 19 não corresponde à realidade histórica. Tiradentes, de acordo
com o que se lê em “Brasil: uma história”, do jornalista Eduardo Bueno, foi
apenas o “bode expiatório” da Inconfidência
mineira.
Os que ficaram pasmos com a desconstrução feita em
relação a figura mítica de Tiradentes, espantar-se-ão ainda mais com o estudo
de Laura Pinca, no artigo “Tiradentes, o bode expiatório” para a Associação
Cultural Montfort, o qual transcrevemos integralmente abaixo:
“Novos estudos históricos apresentam uma
inconfidência mineira diferente daquela que nos narram os livros didáticos. Embora a historiografia oficial considere a
inconfidência mineira (1789) como uma grande luta para a libertação do Brasil,
o historiador inglês Kenneth Maxwell, autor de "A devassa da devassa"
(Rio de Janeiro, Terra e Paz, 2ª ed. 1978.) que esteve recentemente no Brasil,
diz que "a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de
oligarquias, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas
como justificativa", e que objetivava, não a independência do Brasil, mas
a de Minas Gerais.
Esses novos
estudos apresentam um Tiradentes bem mudado: sem barba, sem liderança e sem
glória. Segundo Maxwell, Joaquim José da Silva Xavier não foi senão o
"bode expiatório" da conspiração. (op.cit., p. 222) "Na verdade,
o alferes provavelmente nunca esteve plenamente a par dos planos e objetivos
mais amplos do movimento." (p.216) O que é natural acreditar. Como um
simples alferes (o equivalente a tenente, hoje) lideraria coronéis,
brigadeiros, padres e desembargadores?
A Folha de
S. Paulo publicou um artigo (21-04-98) no qual se comentam os estudos do
historiador carioca Marcos Antônio Correa. Correa defende que Tiradentes não
morreu enforcado em 21 de abril de 1792. Ele começou a suspeitar disso quando
viu uma lista de presença da Assembléia Nacional francesa de 1793, onde
constava a assinatura de um tal Joaquim José da Silva Xavier, cujo estudo
grafotécnico permitiu concluir que se tratava da assinatura de Tiradentes.
Segundo Correa, um ladrão condenado morreu no lugar de Tiradentes, em troca de
ajuda financeira à sua família, oferecida pela maçonaria. Testemunhas da morte de
Tiradentes se diziam surpresas, porque o executado aparentava ter menos de 45
anos. Sustenta Correa que Tiradentes teria sido salvo pelo poeta Cruz e Silva
(maçom, amigo dos inconfidentes e um dos juízes da Devassa) e embarcado
incógnito para Lisboa em agosto de 1792.
Isso
confirma o que havia dito Martim Francisco (irmão de José Bonifácio de Andrada
e Silva): que não fora Tiradentes quem morrera enforcado, mas outra pessoa, e
que, após o esquartejamento do cadáver, desapareceram com a cabeça, para que não
se pudesse identificar o corpo.
"Se dez
vidas eu tivesse, dez vidas eu daria pelo Brasil". Como só tinha uma,
talvez Tiradentes tenha preferido ficar com ela.”
Org.
e Pesq.: Antonio Barboza